“O homem é uma vontade servida por uma inteligência” (Jacques Rancière, retomando o pedagogo do séc. XVIII Joseph Jacotot).
Quando pensamos no aprendizado de algum instrumento ou de canto, algumas questões nos vêm à mente: quanto demora para que eu esteja tocando ou cantando algumas músicas? Quantas horas preciso estudar por dia? Já tentei aprender uma vez, mas não tenho jeito, será que vou conseguir aprender agora? Uma resposta possível, na minha opinião, seria: depende, você tem realmente vontade de aprender música?
Há algo muito fundamental em qualquer aprendizado, que é o querer aprender. Isso fica nítido quando pensamos no contexto escolar: o quão custoso era aprender alguma disciplina pela qual tínhamos nenhum ou pouco interesse? E o quão gratificante era aprender as que gostávamos? Isso não dizer que quando a gente tem vontade de aprender algo os obstáculos ficam menores, o que acontece é que a nossa disposição em resolver os desafios é suficiente para que não nos importemos com o quão trabalhoso eles serão.
Por isso, quando nossa vontade de aprender música não é muito intensa, tudo fica mais penoso e as chances de desistirmos nos primeiros obstáculos aumentam. Claro, isso também não quer dizer que para aprender música precisamos deixar tudo de lado ou querer ser músicos profissionais. Podemos ter outras carreiras, outras prioridades, e mesmo assim ter vontade suficiente para nos dedicar, no ritmo que for possível, à música.
Aqui falamos sobre algo importante: o ritmo de aprendizado. O ritmo e a evolução do nosso aprendizado estão diretamente ligados à intensidade de nossa vontade. É claro que a quantidade de tempo livre de que dispomos para praticar música tem grande peso em nossa evolução musical. No entanto, esse não é o ponto determinante. Quantas vezes a gente tem um dia inteiro para fazer uma tarefa e, mesmo assim, acabamos nos distraindo com outras coisas e a deixamos para a última hora, ou então simplesmente não a fazemos? Mas se essa tarefa for algo que desejamos muito, que nos dê algum tipo de satisfação – imediata ou a posteriori -, as chances de passarmos boa parte do dia nos dedicando a ela aumentam bastante.
Resumindo, o ponto aonde quero chegar aqui é: embora nossa evolução musical dependa de inúmeros fatores, como nossas habilidades e dificuldades específicas ou nossa bagagem musical prévia, o certo é que quanto mais forte é a nossa vontade de aprender música, mais tempo passamos cantando ou tocando nosso instrumento, mais intensa é a nossa prática musical (porque a atenção que colocamos nela também é maior) e mais intenso é o nosso ritmo de aprendizado.